POR QUE VIREI À DIREITA

Marta Leiria

Este livro é para quem anda desconfiado do conto de fadas sobre a fraternidade do povo. Os três ensaios de João Pereira Coutinho, Luiz Felipe Pondé e Denis Rosenfield valem também para os que já concluíram que ideias liberais e conservadoras têm mais a ver com a natureza humana. Afinal, se é verdade que somos imperfeitos, egoístas, e a vida é uma competição cruel (adultos sabem muito bem disso, embora alguns neguem), como acreditar em quem promete maravilhas nesta precária vida terrena? Tentar igualar as pessoas a fórceps, só mesmo com sacrifício da liberdade individual. O Estado a tutelar a vida privada. O Estado a dizer o que é bom para a coletividade.

Hoje optei por me deter em Rosenfield, autor do ensaio "A esquerda na contramão da história". Não sei se ainda é, mas quando escreveu este texto, o analista político ensinava filosofia na UFRGS. Suas ideias têm influência da Escola Objetivista de Ayn Rand (vale ler "A virtude do egoísmo", da filósofa). O escritor relata sua experiência marcada por grandes expectativas, e posterior decepção, aqui em Porto Alegre. Época áurea do Orçamento Participativo e do Fórum Social Mundial, em que nossa Capital havia se tornado referência do "novo socialismo" na França e em outras partes do mundo. Época em que a bandeira do Partido dos Trabalhadores sinalizava uma tentativa de coibir malversações de recursos públicos. A defesa da ética na política. Eu era jovem àquela época, e também acreditei.

Rosenfield relata as estreitas relações do Partido dos Trabalhadores brasileiro com o Partido Socialista Francês, ressaltando a atração dos intelectuais franceses pela violência a outros povos (ele estudou na França entre 1976 e 1982). Embora não arrisquem a pele por suas ideias, defendem-nas com entusiasmo no conforto dos cafés, entre um cálice e outro de vinho. E o que dizer da alegada superioridade moral dos progressistas? Nas palavras de Rosenfield, "as ideias marxistas e seu avatar comunista no século XX, com prolongamentos no XXI, procuraram arrogar para si a posse do bem coletivo, impondo-a sobre o bem individual. Essa atitude gerou (e gera) regimes ditatoriais com uma característica específica: sua violência totalitária se disfarça com uma vestimenta moral, uma vez que são tomados como representantes do Bem maior." Ocorre que a defesa da violência como instrumento de conquista do poder não mais captura a simpatia dos cidadãos. Hoje testemunhamos que nem os chineses estão mais suportando o autoritarismo estatal a que são submetidos. Os indivíduos querem decidir o que é melhor para eles mesmos. O óbvio: a fome de liberdade é ínsita à natureza humana.

O que o autor escreve sobre o socialismo do século XXI e os meios de comunicação? Reparem: "`Democratização dos meios de comunicação` é outro eufemismo utilizado pela esquerda brasileira para disfarçar seus objetivos de controle da imprensa e sua aversão à liberdade de opinião. Conhecemos bem a tentativa de destruir a autonomia dos meios de comunicação em experiências na América Latina." Ora, se o objetivo é calar determinadas vozes, sempre haverá, não tenhamos dúvida, alguma desculpa de ocasião a justificar a censura aos livre-pensantes. Parece até que foi escrito hoje, mas, na verdade, este pequeno grande livro foi publicado em 2012, pela Editora Três Estrelas. "Por que virei à direita" está esgotado, mas achei esta preciosidade por uma pechincha na Estante Virtual.

 

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