CASEI COM UM COMUNISTA

Marta Leiria

PARTE 1) Sinopse da contracapa sem spoiler:
Menino pobre e ignorante que fugiu da casa dos pais, o trabalhador braçal Ira Ringold conseguiu se tornar um célebre ator de rádio. Faz fama como defensor de causas progressistas e se casa com uma atriz, Eve Frame. Na era do macarthismo, quando ser comunista equivalia a crime, Eve escreve um livro delatando ao público a vida dupla do astro: Casei com um comunista. Philip Roth, nesta história ficcional sobre crueldade, traição e vingança, retrata magistralmente o pós-guerra, época em que a febre anticomunista não apenas contagiava a política, mas traumatizava os recantos mais íntimos da vida de amigos e familiares.

PARTE 2) Trecho de diálogo reproduzido, ipsis literis, entre um defensor do capitalismo e um jovem fortemente influenciado pelo exaltado Ira:

"Garoto, não dê ouvidos a ele. Você vive na América. É o maior país do mundo e o melhor sistema do mundo. Claro, tem gente que se fode. Acha que ninguém se fode na União Soviética? Ele diz para você que o capitalismo é um sistema de competição cruel. E o que é a vida senão uma competição cruel? Este é um sistema em sintonia com a vida. E como é assim, funciona. Olhe, tudo o que os comunistas dizem sobre o capitalismo é verdade, e tudo o que os capitalistas dizem sobre o comunismo é verdade. A diferença é que nosso sistema funciona porque se baseia na verdade do egoísmo humano, e o sistema deles não funciona porque se baseia num conto de fadas sobre a fraternidade do povo. É um conto de fadas tão maluco que eles têm de pegar as pessoas e levar lá para a Sibéria para ver se acreditam nele. Para fazer as pessoas acreditarem na sua fraternidade, eles precisam controlar todos os pensamentos delas ou então fuzilar. Enquanto isso, na América, na Europa, os comunistas continuam com o seu conto de fadas, mesmo sabendo o que acontece, na realidade. Claro, por um tempo você não sabe. Mas o que é que você não sabe? Conhece os seres humanos. Então já sabe tudo. Sabe que esse conto de fadas não é possível. Se você é um cara muito jovem, acho que não tem problema. Vinte, vinte e um, vinte e dois anos, tudo bem. Mas depois disso não há motivo para uma pessoa de inteligência mediana engolir essa história, esse conto de fadas sobre o comunismo. Vamos fazer uma coisa maravilhosa... Mas a gente sabe como é o nosso irmão, não sabe? É uma merda. E a gente sabe o que é o nosso amigo, não sabe? É semimerda E nós somos semimerdas. Então como é que pode ser maravilhoso? Nem cinismo, nem ceticismo, simplesmente a capacidade humana normal de observação nos diz que não é possível."

PARTE 3) Conclusão: e então, caro leitor, o que achou dessa fala? Já leu "Casei com um comunista" ou outras obras do escritor? Quanto a mim, foi caminho sem volta ler Roth. Comecei com "A marca humana" e o próximo será "Pastoral americana". Pena conhecer este autor só agora. Não perderei mais tempo.

 

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