PRESCRIÇÕES PRAIANAS PARADISÍACAS - PARTE 2

Marta Leiria

Como falei no texto anterior, os tênis não tiveram oportunidade de sair da mala durante a estada
em Caraíva. Após quatro noites (tempo mínimo para vivenciar a fundo a vibe única desse pequeno paraíso), foi a vez de Trancoso. Escolhemos a charmosa Pousada Soleluna, a poucas quadras do Quadrado, terreno imenso rodeado por casinhas de todas as cores. De costas para o mar, e ao fundo do terreno, reina absoluta a igrejinha erguida no longínquo Sec. XVII. Mais parece uma visão de outro mundo, tal o contraste com o azul do céu, toda branca e iluminada à noite. A vista lá de cima para as Praias dos Nativos e a dos Coqueiros é puro deslumbramento. Se não conhecem Trancoso, até os mais avessos ao rústico certamente irão se encantar. Tudo é glamour, até a farmácia — não resisti a vários cliques. Isso sem falar nos restaurantes e lojas do Quadrado e nos beach clubs. Além de perambular pelas praias centrais não dá para dispensar o crème de la crème, a exclusiva Praia das Tartarugas. Maré baixa, passamos por pedras de cores inacreditáveis, e nos surpreendemos com a Praia do Rio da Barra. Na manhã de encerramento da viagem, o derradeiro (ainda bem) e lauto desjejum recheado de frutas, sucos de cacau, graviola, caju, pães de queijo, tapioca, bolinhos com geleia caseira e queijadinhas de milho e de coco.

Por falar nisso, o que é culinária local? Bobó, moqueca de camarão, acarajé, vatapá, pimentas, carne de sol com aipim, arroz de polvo. Polvo à vinagrete. Especial menção aos drinks tradicionais e autorais de tantos restaurantes e clubes de praia, tudo no maior capricho. Para amenizar tamanha fartura, andarilhamos uma média de 9km por dia. Parêntese: serei gentil comigo mesma, só vou me pesar umas três semanas após a viagem, ao retomar minhas providenciais brássicas, sementes, castanhas, arroz integral com feijão. Folhas e mais folhas! Reparei que na maioria dos clubes inexistem as famigeradas cadeiras e mesas de plástico colorindo, com gosto duvidoso, a areia da praia. É tudo em palha, tecido e madeira, casando perfeitamente com a natureza. Chuvas intensas? Só deram as caras pelas madrugadas e de manhã cedinho. Ter consultado o praiômetro do Ricardo Freire para planejar os destinos foi providencial. Percalço de viajem? Um único: não pude usar tênis, sequer no dia do retorno ao nosso frio. Com a cabeça nas estrelas e nas lâmpadas iluminando lindamente a noite de Caraíva, bem no início da viagem, chutei uma parruda raiz de árvore e quebrei a unha do dedão a ponto de acrescentar ainda mais estrelas ao firmamento. Então, foram as mesmas Havaianas do início ao fim da inesquecível viagem. Estou obcecada em voltar para lá, já planejando apresentar ao Marco esse vilarejo encantado.

 

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