Asas (Um voo por 60 anos)

Ezequiel Berriel


Aves que migram retornam à origem. Amigos não.

Desconheço quantas vezes uma ave pode voar e retornar em busca do clima e local para sobrevivência e reprodução. Mas aprendi que amigos, quando voam, nunca voltam. Pelo menos, como eram. É comum, ao contrário das aves, aclimatarem-se e ficarem em novas paragens.

O Luiz Carlos, o Júlio, o Binga, o Jáide e o...quantos mais? Onde andarão? Era a adolescência, a juventude em Rosário do Sul. Eram amigos de verdade. Passou. Desde o final dos anos 60 não mais os vi ou soube deles. Éramos inseparáveis. Amizade eterna. Vida no interior. Como aves migratórias, voaram. Ao contrário delas, não voltaram. Alguns, como eu, ainda vivem, talvez.

O Almiro Rocha, o Tadeu, a Elenice... que fase! Iniciando a vida solo. Anos 70. Cidade grande. Alçaram voo também. Nunca tive notícias de seus paradeiros.

O Bita, o Juan, o Marquinho. Anos 70, 80. Uma fase importante na vida de todos nós. Crescimento profissional. Início da formação de família. Festas. Abriram asas também. Migraram. Ficaram saudades. Sei que todos estão vivos.

O Claudio, o Zé, o José Luiz e outros casais. Compartilhávamos em nossos carros o transporte dos filhos à escola. Viagens. Jantares. Parecia amizade eterna. Anos 80, 90. Alguns migraram em voos solo, enquanto outros recolheram-se ao ninho a dois. Mas sei que estão vivos também.

O João, o Alair, o Jaime, o Longhi, o Pedro, o Nilson... casais amigos. Resolvidos. Filhos criados e formados. Envolvimentos com netos. Jantares. Festas. Viagens. Longas conversas noite adentro. Amizade eterna também, ao que parece. Anos dois mil já ao longo da segunda década. A melhor idade ou idosos? Sei lá! Não há mais tempo ou ânimo para voar. Saudade do Pedro que voou mais alto.

As aves migratórias, assim como os amigos, voam, mas se renovam conforme as épocas. São como safra. Safra que parece sempre ser a última, não fossem os voos. Não fossem as asas.

 

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