Paradoxo

Denise Accurso

As semanas estão voando, enquanto os dias se arrastam. Mais um paradoxo indecifrável para Rodrigo. Ele acelera o passo. Nessa tarde ensolarada de sábado, decidiu deixar a autopiedade de lado e saiu para dar uma caminhada na orla do Gasômetro. Havia muita gente caminhando, andando de bicicleta, patinete, tomando mate…
Então ele a vê. Não a estava procurando, embora pensasse nela e em seu gosto por caminhadas. Percebe que ela não está sozinha, caminha de mão dada com um cara. Com o outro. Ou será outro outro? Isso ele não sabe e não quer saber. Acelera o passo e se afasta o máximo possível.
Não é a primeira vez que ele a vê… depois. Mas é a primeira sem querer. Depois que terminaram, ele esteve rondando, vendo-a de longe, e assim descobriu a verdadeira causa do pé na bunda: o Outro.
A caminhada está perdendo o sentido, pois os pensamentos estão voltando ao mesmo indesejável ponto. Decide dar meia-volta, voltar pra casa, tomar um banho, ligar para o filho, visitá-lo se estiver disponível…
– Rodrigo!
Ela parou à sua frente, a mão livre no rosto. Ele abre um sorriso:
– Oi, Vânia.
Ele tenta prosseguir a caminhada, mas ela o segura pelo braço.
– Peraí, quanto tempo! Me diz como tu estás, como andam as coisas…
Ué! Ela que tanto o evitava, não atendia telefone, não respondia mensagem, fugia dele, agora quer saber como ele está. Intrigado, responde:
– Tudo bem, tudo na paz. E contigo?
Ao invés de responder, ela o apresenta ao acompanhante:
– Esse é o Pedro.
– Prazer.
– Prazer.
Um clima estranho parece estar se instalando. Rodrigo diz:
– Tenho que ir, gente. Bom te ver, Vânia. Prazer te conhecer, Pedro.
Ela, novamente, põe a mão livre em seu braço:
– Se precisar conversar, liga.
Ele caminha furiosamente para longe. Longe daquele par, longe daquele novo paradoxo. O sol desapareceu, o lindo dia, as pessoas. Sobrou um ponto de interrogação. O que ela quis dizer? O que isso quer dizer?
Estava confuso, perturbado, pelos toques, pelo pedido de ligação. Não compreendia o significado daquilo tudo.
De repente, o estalo.
– Agora eu sou o Outro!

 

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