Amar, verbo intransitivo 2

Denise Accurso


Roberto percebeu que Helena mudou, e não só com ele. Ficou bem claro que ela gosta do Cris. Não pode entender o que Helena viu nele… Ela nem disfarça. Fica vermelha quando o Cris fala, lança-lhe olhares lânguidos, age como uma tonta. E ela não é tonta, é alegre, divertida, uma das melhores alunas da classe… Só de uns tempos pra cá que deixou de ser tão boa aluna. Está sempre ou distante ou triste.
Roberto sente falta da amiga, da alegria, da proximidade. Ele também se sente meio abobado. Ontem depois da aula ficaram gozando dele, num coral improvisado: “gosta da Helena”, “gosta da Helena”… Ele riu e fingiu não se importar, mas decidiu parar de observar a amiga.
O que ela via no Cris? Um baixinho desmilinguido! Em casa, olhou-se no espelho e se viu, alto, cabeludo, meio desajeitado. Desistiu de pensar nisso. Decidiu desencanar. A Helena e seu mau gosto que fossem à merda!
Não queria olhar, mas viu que no dia da prova ela parecia perdida. “Bem feito! Se ainda fosse minha amiga, teríamos falado da prova, do que iria cair, talvez até tivéssemos estudado juntos”. Lembrou com saudade daquele tempo que agora parecia tão distante, quando conversavam todos os dias.
No dia seguinte, as provas foram devolvidas. Não deu pra não ver o ar de desamparo no rostinho dela. Percebeu um movimento de pálpebras: Helena estava quase chorando.
Num impulso, levantou e foi até a mesa da amiga, na tentativa de alegrá-la. Pegou a prova, fez um gracejo, queria desanuviar aqueles olhos.
O olhar dela foi revelando tudo. Primeiro, confusão, depois, alegria, em seguida… O que será que aquele olhar tão quente queria dizer?
Sentiu que se abraçaram com os olhos.

 

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