Lorena de novo

Denise Accurso

Lorena estava em outra fase. Novo emprego, mais a sua cara. Conhecendo os colegas, iam surgindo novas amizades. Estava bem, estava feliz. Aqueles dias de tristeza e choramingos nos cafés tinham ficado no passado.
Teve que ir ao centro pagar umas contas e conseguira aproveitar para fazer umas comprinhas no Mercado Público. Agora tentava caminhar rápido em meio a todas as pessoas que por ali circulavam. Conseguira fazer tudo e ainda ia levar pra casa as balas de marzipã que sua mãe adorava.
Com sacolas enfiadas nos braços, ia em direção à parada de ônibus já cavoucando dentro da bolsa, tentando pegar a niqueleira e dali tirar dinheiro trocado, quando viu-se rodeada por garotos. Em andrajos, pés descalços, era quatro, e pareciam ter entre seis e oito anos.
– Dá um trocadinho, tia?
A resposta era automática e repetida diversas vezes ao dia:
– Não tenho. Só o do ônibus.
Um deles mostra um prego enorme e todo enferrujado, dizendo:
– Então vou te furar com esse prego. Tá sujo de sangue com AIDS. Tô falando sério, furo mesmo!
Lorena olhou para o prego, que parecia bastante enferrujado. Seria verdade aquela história? Ao seu redor, pessoas passavam, totalmente alheias ao pequeno drama que se desenrolava. Pensou em correr, em pedir socorro, em revidar. Até em rir da ameaça. Pensou em tudo isso, mas pegou a niqueleira que pescara dentro da bolsa e entregou-a aos meninos. Um deles a abriu:
– Tem dinheiro dentro!
Os quadro reuniram-se em torno do butim. Lorena aproveitou pra seguir seu caminho.
O cobrador do ônibus teve que trocar uma nota grande. Ela estava se sentindo meio boba, assaltada pela segunda vez, dessa vez com um prego, por crianças!
Abrindo a porta de casa, disse pra mãe, que a esperava, já começando a rir:
– Ai, mãe. Não precisa te preocupar nem nada, a história é até engraçada, mas fui assaltada no centro. Levaram minha niqueleira.
– Ah, minha filha! De novo?





 

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