Negar

Denise Accurso

Mariana sentiu-se perdida, encurralada. Teria que enfrentar essa situação e todas as perdas implicadas. Costumava adiar esses momentos tanto quanto possível… às vezes indefinidamente.
Formaram-se lágrimas em seus olhos. Tentou segurá-las, em vão. Resolutas, duas gotas salgadas escorreram por sua face. Baixou a cabeça. Decidiu manter-se em silêncio.
– O que significa isso, Mariana? O que é isso?
Não falar. Calar-se. Essa seria sua estratégia de adiamento. Quem sabe alguma coisa aconteceria e a salvaria? Quem sabe ele desistiria?
– Para com isso, Mariana. Responde!
Ele a segura pelos ombros e sacode, sem muita força, mas o bastante para fazer ela levantar a cabeça e olhar nos seus olhos. Algo dentro dela parece se retorcer, querendo fugir. Não suporta aquela situação.
– O que significa isso? Repete Evandro, apontando para o celular na mão dela.
Ela pensava com rapidez na melhor resposta. Na resposta que o apaziguaria, que afastaria dele a desconfiança. Ele não podia saber a verdade. Isso os levaria a enfrentar coisas para as quais ela não estava preparada. Tudo o que ela queria era um encantamento que a levasse ao ponto em que estava há uma hora. Apenas uma hora podia mudar toda uma existência. Não, isso não aconteceria. Ela apagaria aquela hora. Ela negaria.
– Nada, Evandro. Não significa nada! Não estou te entendendo. O que poderia ser tão grave? Porque tu estás assim, alterado desse jeito?
“Claro que também estou com saudades. Mal posso esperar pra te ver. Mas é difícil, como tu sabes. Infelizmente não sou livre”. “Daria tudo para estar em teus braços, te beijar, te cheirar, te lamber… Sinto falta do teu calor” e outras tolices do gênero era a fonte dessa perturbação. Aquelas palavras perigosas não deveriam estar ali. Não deviam ter sido escritas ou então, pelo menos, deviam ter sido apagadas. Era muita imprudência. Era amadorismo.
Tudo tem consequências. Nada é inócuo ou inocente. É preciso fazer escolhas, eleger prioridades, ela sabia disso agora. Talvez não fosse tarde demais. Tentaria consertar a situação. Tentaria. Negar e negar seria sua estratégia.
– Eu só queria testar meu celular. Ligar do teu pra mim mesma e ver se está chamando. Só que nem consegui abrir, não lembro mais a tua senha.
Ele a olha, desconfiado.
– Toma ele de volta, seu doido. Por que razão secreta eu ia pegar teu celular? Pra ver no que tu anda gastando tanto? Ela riu.
Ele pega o celular de volta. Parece confuso.
– Tu sabes que tenho mensagens de pacientes, coisas confidenciais. Por isso mudei a senha do celular. Mas, se tu quiser, pega aí, pode olhar.
– Não quero ver nada, já te disse! Até parece que somos desses casais em que um não confia no outro. Só liga pra mim, quero ver se meu telefone está tocando.
Mariana sente um imenso alivio. Conflito evitado.

 

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