Desencontro

Bruna Agra Tessuto

— Por que essa mala, Rogério?
— Nós já conversamos sobre isso, Regina.
— Eu não lembro. Você vai viajar a trabalho?
— Vou hoje para o meu novo apartamento.
— Não, Rogério! Eu quero ser mãe. Nós já discutimos os nomes, lembra?
— Conversei com o Pedro e a Letícia sobre a minha mudança. Acho que reagiram bem. Amanhã, depois da faculdade, vão jantar comigo.
— Pedro e Letícia. Eu sabia que você ia acabar concordando com os nomes.
— Você pode me soltar, por favor?
— Meu pai vai ficar emocionado ao saber que o nome do nosso filho é em homenagem a ele.
— Ele já sabe, Regina.
— Você contou?
— Nós dois contamos quando você estava grávida.
— Rogério, eu não quero mais que a Heloísa seja a madrinha do nosso primeiro filho.
— Pedro é afilhado dela. Mas vocês duas não se falam há meses.
— É errado eu não confiar meu filho a ela? Sempre foi minha amiga.
— Não existe certo e errado.
— A mãe dela e a minha mãe também são amigas.
— Eu gostava muito da dona Alda. Mais do que sogra, ela foi uma segunda mãe para mim. Você sabe disso, né?
— Tenho certeza que ela vai chorar no dia do nosso casamento.
— Regina, estamos em 2045. Combinamos de esperar o Natal e o Ano-Novo para eu sair de casa, lembra?
— Não lembro. Mas por que essa mala, Rogério?
— Nós estamos nos divorciando. Eu vou me mudar. Heloísa vai morar comigo. Nós já conversamos muitas vezes sobre isso.
— Você está prevendo nosso futuro?
— Não, Regina. Você que ficou presa no passado.

 

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