Dica de Leitura - por Clotilde Garssi

Jacira Fagundes


Dica de Leitura por Clotilde Grassi
Autor – Leandro Karnal (Professor e Filósofo)
Gênero – Palestra
Programa de TV – Café Filosófico (vídeos)

Quem gosta de obter conhecimento em profundidade, de fontes seguras, bom raciocínio, conclusões apuradas e resultantes de muito estudo, de todas as leituras, de pesquisas presenciais por diversas partes do mundo, busque ouvir palestras ou ler o historiador, professor e escritor Leandro Karnal.
Sua linguagem é rebuscada e atraente. Compreensível aos atentos. Quando fala, ironiza com inteligência e bom humor, o que torna agradável ouvir por muitas horas o que tem a dizer e ensinar. Como todo bom professor, é didático em suas apresentações, variando os temas, mantendo um todo organizado e em sequência, capaz de conduzir nosso pensamento e coração em busca de beber nesta fonte inesgotável de saber.
Fala de improviso, pois sua gama de conhecimentos, garimpados em dias e noites de muita leitura e reflexão, nada escapa ao seu leque de domínio. Ao falar sem ter nada anotado, logo se faz perceber que o que disser está comprovado em fontes sólidas, de modo que nada do que é dito fica na superfície. A profundidade e competência com que aborda os mais diversos temas da humanidade lhe dá a tranqüilidade de falar ou escrever sem notas, sem papéis, sem audiovisuais. Seu guia é seu cérebro testado e exercitado ao longo de muitos anos de foco e regularidade, longe das janelas, abdicando diversões ou passeios, enquanto ambicionava ser a excelência que hoje apresenta e oferece aos seus ouvintes e admiradores.
Importa destacar algumas colocações que o faz em seu livro “No coração das Coisas”, onde escreve sobre A microfísica da vida (parte 1), O tempo e a história (parte 2), Deus e os homens (parte 3), Educar quem e como? (parte 4) e O universo cultural (parte 5). Sobre religião e espiritualidade, transita com a facilidade de quem viveu em mosteiro, leu e estudou todas as religiões, visitou santuários da Itália, México, Portugal, França, Índia, Aparecida e Nazaré no Brasil para sentir a fé dos povos e suas devoções. Por se dizer ateu, transparece contraditório vê-lo desfilar passagens bíblicas e tantas outras fontes espirituais, com conhecimento tão específico. É ateu – é o que Karnal diz. Sua pergunta à página 217, sobre a finitude, é intrigante e desafiadora: “O que você precisa fazer antes de morrer? O que completaria sua obra biográfica?”
Comenta sobre pessoas de pouca leitura e sem profundidade nos temas que julga ou insulta com prognósticos rasos, enfatizando que, poucos são os que enfrentam o lento progresso da leitura e do raciocínio. Antes de tecer comentários, o professor sugere muita leitura crítica, vários pontos de vista sobre o mesmo tema, para se poder questionar com autonomia e propriedade. Há um longo caminho até que surja linha de raciocínio próprio e de consistente entendimento. Saber dados constitui informação, mas inteligência e discernimento não se perfectibilizam pela memorização e repetição. O processo leva anos. A capacidade de criar, associar, comparar, inovar, relacionar e dar sentido novo exige inteligência lapidada de muito tempo na busca, de esforço continuado. O achismo não constitui convicções, senão imitação. Argumentar com idéias bem elaboradas e embasadas é eficiência de poucos, bem como a criatividade, o raciocínio ponderado e a capacidade crítica, suportes que pavimentam a estrada do futuro – como diz.
Segundo enfatiza em seus livros e palestras, a ética, o respeito pelo diferente, a capacidade de convivência em harmonia com os outros falam da dignidade de cada um, em suas circunstâncias. Nem sempre o homem é santo, nem mau o tempo todo. Há que ser exercitada a tolerância e o amor para que as relações sejam suportáveis e a lei do mais forte ou do que mais grita volte a ter vez. Por fim, sua coerência entre o que fala e o que vive diz com a construção de um ser humano experimentado, digno, um sábio competente que nos dá esperança, porque vê o coração das coisas.


 

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