Polifonia #2

R. Duccini

A Lygia Meyer

Tarde,
silêncio claro
Há dois anos: No processo
a gente tem medo
Assustados no
Silêncio (!), tarde "Clara"?

Me diz:
- Estamos juntos
(juntos)
no agora que aqui
(Estamos)
ou apenas no espaço
jogados entre a distância
dos (meus)
nossos olhos
(Como a poeira espalhada no assoalho,
a remela no canto esfarelenta
a saudade
afogada em peito mudo)

Mas... diz que,
de verdade
que eu
não; que tu não;
que nós...
Não.
Perdidos no Escuro
(todos) segurando a mesma chama
malacesamalapagada
No aqui e agora
(me diz que...)
Evitando. Que ela
se apague
-sempre se apaga

- Não existe 24h -

(Não adianta)
Eu não pude evitar
(Mas diz que)
A culpa é minha
(Diz que)
Deveria ter sido eu
(Diz)
Eu deveria estar...
- Diz que eu deveria estar lá

A sílaba na noite
Se precipita como
o fogo
a voz
as páginas de papel impresso

incinerado
como eu e você
como todos nós.
- Fodidamente
Todos.
perdidos
(no abandono)

Perplexo:
fugindo na sombra
(de nós) mesmos
daquele (dia)
de todas as horas
- que felizes!
Desperdiçamos...

- Mas eu... E você?
me olha nos olhos
(o que você vê?)
Bem dentro da retina
Na fronteira.
"Uma ponte"
Inacessível ponte entre o humano e o Além.
Fracassados no cadafalso
de nossos pés...

Desmoronando
na solidão
no escuro
- Suculenta fruta:
amargor derradeiro
(que cavamos) no nosso próprio peito.

Mas diz,
(abraçada)
diz que
(aqui e agora)
Mas diz abraçada no meu colo,
no colo de todos os olhos
de todas as mãos juntas.
- Centopéia de mil dedos! (Diz...)
Estamos. Todes juntes.

De verdade...

 

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