Vida e Morte Transeverine

R. Duccini

Imagina:
Coração arrancado
Peito boca aberta
Ocó rondando na esquina
Teu sangue vertendo
Sanguessugas no asfalto
Severina,
A faca feita farta
Com teu membro cravado
Erguido no cabo
E uma santa enterrada na sua vagina
É essa tua sina
Pescoço aberto
Degolado no motel
Por um adé fontó
Que sem coragem de dar o fiofó
Prefere
Enfiar a lâmina no ventre
Da sua vontade,
Calando o grito
No teu silêncio de boy;
Travessia transloucada
Retirante colocada na existência
À toda prova: Resistência.
Resiliente sentido
Que dá Vida
A partir de um princípio
De negação.
Quem sabe seu nome?
Cadáver Severine que a terra
Não cansa de engolir
Quem sabe seu nome?
Colorê esquecida na calçada
Perdide sem língua
Numa terra vetada ao pajuba
Não recomendade
Corpo
Palavra
Amor
Vontade
Ter no peito um alvo
Para cisnormativa artilharia
Mas quem sabe seu nome?
Vida e morte nessa pátria
De Ser-tão asassinade
Mais que em qualquer outro lugar
Que nesse globo se ilumina
Mas quem sabe seu nome, Severina?
Quando vem a mão branca da proibição
porta do banheiro,
porteira de casa
O grito de horror, confusão
na vista de quem não entende
Mas quem sabe seu nome?
Dandara, Soren, Bruno, Thiago, Beatriz
Direito a ti tão negado
Que até no túmulo é velado
E de tão seu se trava
enterrado abaixo da língua
À sete palmos
Nessa Morte e Vida
Severine.

 

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