Minicontos de fadas

Denise Accurso

Cinderela



Estava pronta para seu primeiro baile. O pai gastara a pequena reserva familiar naquela festa. A mãe tinha feito muita faxina e cuidado de muita criança depois da aula para poder comprar aquele tão sonhado vestido branco. Sentia-se uma princesa envolta em tule e renda esvoaçantes.

Chamou a carruagem pelo aplicativo. Chegou um Ford Ka, totalmente coberto de lama e poeira.




Bela Adormecida



Abriu os olhos. Fazia muitas horas que dormia, ela sabia. Deitara na sexta-feira, logo após chegar do trabalho. Quando ele chegou em casa, ela já estava dormindo e não houve necessidade de qualquer conversa.
Olhou o celular. Sábado, oito da noite. Foi rapidamente ao banheiro e pegou alguma coisa de comer na geladeira. Voltou para a cama. Só podia acordar segunda-feira.




Pinóquio



Respirou fundo. Colocou um sorriso estranho no rosto. Cumprimentou o casal com esgar.
Ele não a olhava nos olhos. Estava tão diferente de ontem, quando mais uma vez tinha garantido não ter mais nenhum contato com a esposa. Explicara, mais uma vez, que morava com ela provisoriamente, até reorganizar suas finanças e poder sair de casa. Ela colaborava, pagando o motel e outras despesas.
A barriga protuberante da esposa e suas mãos cruzadas protegendo a pessoa em formação foram o desmentido.





Rapunzel



Não aguentava mais. “Pode cortar bem curtinho”, pediu ao rapaz do salão. “Tem certeza? Levou tantos anos para seu cabelo ficar do comprimento que você queria e agora vai cortar?”
Sim, ela tinha certeza. Nunca mais o namorado a agarraria pelos cabelos para jogá-la contra a parede, ou a porta, ou o guarda-roupa. Ontem foi a última vez!




Patinho Feio



Ouvia as risadas e seu coração sangrava. Sabia que riam dela. Podia sentir. Tinha certeza. Sempre soube que era diferente, esquisita, ridícula.
Anos se passaram. Já não era adolescente. Mas as risadas jamais a deixaram.






 

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