A menina e o tubarão

Lorena Fontoura

A menina e o tubarão
Renata é uma menina que não entrava em piscinas apesar de gostar muito de brincar com água.
A menina sempre que saía para o jardim, não passava para o espaço de verão, pois este era cercado, com grades altas e um portão com chave. Então Renatinha só ultrapassava as grades quando seus pais estivessem juntos, e mesmo assim sua mãe sempre colocava suas boias de braço para sua segurança.
Certo dia passeando pelo jardim de sua casa, perto da piscina onde sua mãe cuidava das plantas, ela avistou algo diferente se mexendo dentro da água, quase no dreno de água.
Neste dia a menina estava com suas boias e seu biquíni, estava um dia muito quente, e foi direto para perto do buraco da piscina para ver o que era aquilo se mexia, procurando esconder-se dela. Para sua surpresa era um peixinho!
O peixe era muito pequeno e parecia estar com medo, estava tentando esconder-se, mas a menina olhou e sorriu para ele que então saiu um pouco do seu esconderijo. Ele era comprido, tinha uma barbatana em cima, duas nadadeiras (uma de cada lado), um focinho grande e redondo, e uma calda em forma de “V”, sua boca ficava mais para baixo, seus olhos eram castanhos claro e sua pele (ele não tinha escamas), era da cor cinza escuro em cima e branco por baixo.
Renatinha então se abaixou e colocou seus dedinhos dentro d’água chamando para si aquele peixinho medroso. Percebendo sua aproximação, ela foi até os degraus da piscina, perguntou para sua mãe se podia sentar ali. Mesmo surpresa, sua mãe consentiu e com todo cuidado a menina lentamente colocou seus pezinhos no primeiro degrau, e logo em seguida no segundo e assim sentou a espera do peixinho. Este muito devagar aproximou-se dela, a menina então colocou toda sua mão com a palma para cima dentro da água e o peixinho se posicionou em sua mão:
- Oi - disse a menina
- Oi! Respondeu o peixinho
- Sou Renata e você
- Sou Salomão - respondeu
- Eu sou uma menina
- Eu sou um tubarão
- Mas tubarão é bravo, com pessoas - disse a menina
- Não! Olhe para mim, sou manso e não tenho dentes
- Mas o que aconteceu com seus dentes
- Eu não escovei, tive cáries e eles caíram
- Mas o que é isso em sua barbatana
- Haaaaaa! Se você conseguir tirar eu agradeço, é um chiclete que dormi mascando e esqueci de jogar fora, colou aí, faz muitas cócegas!
E assim a conversa dos novos amigos estendeu-se até a hora do lanche, quando a mãe de Renatinha chamou-a para dentro.
Deste dia em diante, sempre que podia, menina Renata saia para o quintal para conversar e brincar com seu amigo. Os dias passaram, a temperatura foi esfriando e terminou a temporada de banhos na piscina.
Pela última vez naquele verão Renatinha foi despedir-se de seu amigo e começou a chorar:
- Vou sentir saudades! Disse ela;
- Eu também sentirei a sua, mas lembre-se, estarei sempre aqui! Respondeu o tubarãozinho
A temporada fria deu início, a menina de tanto em tanto ficava em frente a janela, olhando para piscina e lá estava Salomão, que quando a avistava, fazia piruetas na água, saltando de um lado para outro como quem está acenando!
As estações frias passaram rápido e a menina crescendo, só nosso querido Salomão permanecia do mesmo tamanho.
Certo dia, já mais quente, a menina Renata foi visitar seu amigo e ficou muito feliz ao ver que seu Salomão estava com todos os dentes na boca:
- Meu amigo Salomão que saudade! Vejo que tens dentes novos
- Minha menina! Você me fez falta! Sim estes dentes são os permanentes, os cariados eram de lente, agora sou um tubarão adulto, escovo todos os dias meu dentes - respondeu Salomão batendo suas nadadeiras.
- Você não cresceu como eu? Mas se é adulto, vai querer me morder
- Claro que não! Sou um tubarão adulto, mas manso lembra? E não posso crescer, devo permanecer deste tamanho para sempre, é da minha natureza
E neste verão as brincadeiras foram intensas, Renatinha desta vez entrou com todo seu corpinho dentro da piscina, sempre com suas boias nos braços! Os dois amigos brincavam até cansar, Salomão circulava em torno dela, ensinou-a a nadar, faziam até competição! Salomão sempre deixando sua amiguinha ganhar!
Foi o melhor verão que aquela doce menina viveu, pois havia perdido o medo de entrar na piscina e agora sabia até nadar como um peixe!
Mas como o mundo não para o verão chegou ao fim e a menina percebeu que seu amigo Salomão estava triste, parado em seu esconderijo.
A menina chama-o perguntando:
- Salomão meu amigo, por que você está triste? O inverno passa rápido.
Salomão com voz trêmula e olhos cheios de lágrimas responde:
- Preciso ir embora minha doce menina
- Mas porque - indaga Renatinha
- Existem neste mundo a fora muitas crianças que não entram na piscina por acreditarem que existe lá um ENORME tubarão feroz, para atacá-las! Eu preciso ir ajudá-las como ajudei você minha doce menina. Essa é minha missão e por isso não posso crescer, para poder entrar e sair pelo buraco da água da piscina.
- Vou sentir falta, nunca vou esquecer de você meu grande amigo, essa é a sua missão e chorando Renata perguntou para Salomão
- E qual é minha missão Salomão
- Nadar, brincar e ser feliz minha doce criança
E nadando em direção ao buraco da piscina gritou: Eu não esquecerei de você doce Renata

 

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