Ira e Perdão em 2020

Marta Leiria

Iniciar o ano refletindo sobre o que realmente importa me parece fundamental para convivermos em família e sociedade. E os nossos tão humanos pecados estão na categoria de temas vitais. Elejo, para reflexão, a ira. Carrega em si particularidade digna de nota: uma justa causa.

Em determinadas passagens das narrativas bíblicas, Deus e Jesus demonstram sua ira santa. Quem em sã consciência diria que Deus não está certo ao dirigir sua ira àqueles que estão profanando o corpo e o sexo (luxúria), destruindo Sodoma e Gomorra? Ou que Jesus não tivesse razão em ficar irado e quebrar as bancas ao ver gente estranha vendendo animais para sacrifício, profanando seu templo sagrado (ganância)? Por que negar a sabedoria que da Bíblia se pode extrair? A fé religiosa não está em jogo. Para entender isso basta estar vivo e aberto à reflexão.

Fomos testemunhas (ou até entusiastas partícipes) da ira política no ano de 2018. E os embates continuam a mil. Quem xingou o irmão, o amigo de infância, até a mãe, por ter visão de mundo diametralmente oposta à sua, tem absoluta certeza de que o outro mereceu ser destratado em praça pública. E o eventual remorso pelo descontrole, como fica?

O que poderia nos levar para fora da ira? O que poderia nos fazer parar e perceber que aquela raiva toda acaba reduzindo a percepção da realidade à nossa volta? O oposto da ira é o perdão, a misericórdia. Detalhe importante: aquele que é perdoado tem que saber que não merece o perdão. E o irado perdoa mesmo sabendo que tem razões para odiar. Sair da posição em que se odeia para a posição de quem perdoa é que são elas. Vejam que até nosso Papa, homem sábio, perdeu a santa paciência e repeliu pessoa inadequada que o puxou com força pelo braço! Com a palavra o leitor, razão de ser do cronista: alguém aqui perdeu a cabeça e se descontrolou vociferando sua ira em 2019? Vão aqui meus sinceros votos para que a encontre em 2020. Aquele irmão, amigo de infância e mãe agradecem penhoradamente.

 

voltar para página do autor