Eu me indigno

Maria Avelina Fuhro Gastal

Eu me indigno com quem:

1. desrespeita a dor do outro;

2. argumenta com ataques pessoais;

3. não vê problemas em usar o cargo para beneficiar os filhos;

4. considera comunista todos que não concordam com as ideias dele;

5. crê que a educação só é ideológica quando de esquerda;

6. chama os apenados ou delinquentes de vagabundos, negando-lhes as prerrogativas dos direitos humanos;

7. ignora a ciência;

8. desqualifica o conhecimento;

9. se vê no direito de desqualificar as mulheres, seja por gênero, beleza ou idade;

10. desrespeita povos indígenas, nações e governantes;

11. faz apologia a torturadores;

12. nega a ditadura militar;

13. não entende que o Estado é laico;

14. desconhece a Constituição;

15. usa os dedos em arma como marca de campanha eleitoral;

16. se reconhece incompetente e despreparado, mas, mesmo assim, postula o maior cargo da República;

17. desrespeita o cargo para o qual foi eleito.

Eu me indigno com um povo que:

1. não se indigna com o desrespeito à dor do outro;

2. defende os ataques pessoais;

3. não se manifesta contra as benesses para os filhos;

4. considera comunista todos que se indignam com as atitudes bestiais do Presidente;

5. não vê que a educação de direita é, também, ideológica;

6. concorda com que alguns sejam chamados de vagabundos, desde que não sejam eles;

7. não percebe o dano ao país que ignora a ciência;

8. não luta pelo conhecimento como direito universal;

9. ri do desrespeito às mulheres e aplaude;

10. não reconhece povos, nações e governantes como merecedores de respeito;

11. nega a existência de torturadores;

12. pede a volta da ditadura militar;

13. apoia o Estado misturado com a religião, desde que seja a da sua fé;

14. não se interessa em conhecer a Constituição;

15. não vê gravidade nos dedos em armas como símbolo de campanha eleitoral;

16. vota em alguém que se reconhece incompetente e despreparado para o maior cargo da República;

17. não entende a importância do seu voto.

A defesa do indefensável me indigna. Parece que estamos todos autorizados a liberar o que temos de mais incivilizado, desumano e indigno em nós.

 

voltar para página do autor