Democracia, Instituições e Mídias Sociais

Marta Leiria

No encerramento desta edição do Fronteiras do Pensamento ouvimos dois intelectuais dedicados ao debate de ideias para além do ambiente acadêmico: o norte-americano Mark Lilla e o brasileiro Luiz Felipe Pondé. Já de início, nota-se a preocupação dos pensadores não só com o conteúdo do que dizem, mas com a forma de dizê-lo, a fim de evitarem interpretações distorcidas.

Lilla atribui a derrota do Partido Democrata americano à fixação nas políticas identitárias, em lugar de buscar uma base de solidariedade comum a todos os americanos, qual seja, a cidadania. Afirma ser a favor da imigração. Mas apenas da legal, enfatiza. Explica que não é contra os direitos das minorias, mas acredita que a comunicação empregada pelos democratas fracassou ao provocar ressentimento em grupos não contemplados pelo discurso, como os trabalhadores brancos, dos principais segmentos de eleitores de Trump. Nota-se que fenômeno similar ocorreu em solo brasileiro.

O provocador Pondé não acredita que a democracia possa trazer felicidade. Afirma que uma forma de ajudá-la hoje talvez seja rompendo com qualquer forma de idealização do regime, em que todos seriam felizes e amariam uns aos outros. O que talvez consigamos, isto sim, é conviver sem muitas violências. Nesse cenário, o papel ideal da mídia deveria ser o de informar com filtro, credibilidade, cuidado, não tomar partido de grupos. E assim também se sobrepor à desinformação que prolifera nas mídias sociais.

Se as guerras culturais e os grupos identitários são muitos, a democracia é um regime que exige pessoas maduras. Somos todos cidadãos e necessitamos urgentemente aprender a conviver com pessoas com as quais não concordamos. Daí a importância do respeito ao outro, que inclui a educação doméstica, do fortalecimento dos poderes e das instituições, em um sistema de freios e contrapesos. É preciso, sim, cuidar desses atributos mínimos. Para a própria sobrevivência do Estado Democrático de Direito.

 

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