Sobre gangorras e botas

Maria Avelina Fuhro Gastal

Gangorras e botas tiveram grande peso na minha vida. Muito da minha autoestima e imagem corporal foram destruídas por elas.

Quando criança, desisti da sensação de ficar presa na parte de cima da gangorra. Melhor assim. O prazer de estar no topo era massacrado pela humilhação de precisar juntar mais de um do lado de baixo para me manter lá em cima.

Já adulta, optei sempre por botas de cano curto. Não por preferência, mas por total impossibilidade de encontrar uma bota de cano alto que fechasse na circunferência da minha panturrilha.

Entre essas experiências, colecionei uma variedade de mentiras para tentar sobreviver. Não gosto de pão, nem de massa, muito menos de maionese, molho nem pensar, cachorro quente não me agrada, não sou muito de doces, nem de sorvetes, bacon não me faz bem, leite condensado é enjoativo. Poucas dessas desculpas são verdadeiras. Realmente odeio molho vermelho, maionese e cachorro quente. O resto, enquanto foram mentiras, não me ajudaram em nada.

Não sei se foi metabolismo, ansiedade, genética ou falta de vergonha na cara, mas ou eu cuidava muito a minha alimentação, ou em pouco tempo, nem o tamanho EXG ficaria folgado em mim.

Posso gostar de massa, pão, doces, mas gosto mais da bota preta de cano alto que comprei no inverno passado, junto com a saia lápis e a jaqueta de couro preta, tamanho P.

Provavelmente não encontrarei na minha idade parceiros para a gangorra. Azar. Posso experimentar outras sensações tão ou mais prazerosas. Não vou substituir a ausência do topo da gangorra pelo vai e vem do ponteiro da balança.

Entre a criança e a estreante da terceira idade optei em deixar alguns pesos para trás e seguir mais leve para voar.

 

voltar para página do autor