Pink and Blue Motel

Gilmar Caldas Peres

Pedro e Bia estavam no ápice da vida sexual, inclusive dentro do relacionamento. Havia muita cumplicidade e os desejos se completavam, como nem sempre acontece. Quanto mais faziam amor, mais se sentiam atraídos um pelo outro. Transcendia a carne e as aparências, claramente pelo toque, pelo olhar e certamente pelo cheiro. Em dias como aquele, quando se encontravam para transar, as coisas aconteciam naturalmente e a relação podia ser ouvida à distância, até mesmo por isso, resolveram ir para o bom e velho Pink and Blue, um motelzinho bem arrumado, afastado do centro da cidade. Nada muito chique, mas com boa estrutura. Vez por outra, incomodava o cheiro de cigarro e de carpete molhado. Ainda assim, perderam as contas de quantas vezes visitaram o local cujo nome tinha as iniciais dos dois, como se fosse o lugar secreto e somente deles.

Estavam muito animados naquele dia. Não havia discussões ou problemas fora das quatro paredes, cor de rosa por dentro e azuis por fora, capazes de distraí-los. Viviam um momento de arestas sendo aparadas, com planos para um futuro juntos sendo construído e ambos cedendo um pouco, deixando suas personalidades fortes mais flexíveis. Nem mesmo a falta de dinheiro importunava. Para três horas de motel, uma água com gás e uma pizza brotinho de calabresa, ele tinha. Nessas horas, gostava de ser o cavalheiro e ela não se importava.

Mal entraram no quarto impregnado com perfume para ambientes, tentando esconder o cheiro de carpete mofado, onde havia um rádio grudado à parede e um ar condicionado barulhento e já se agarraram. Bia estava sóbria, apenas com um vestidinho curto, logo acima dos joelhos, mas a simplicidade a deixava sexy, mostrando coxas lisas e um decote na medida certa, atraindo olhares admiradores. O batom vermelho destacava lábios carnudos na pele morena clara com cabelos pretos lisos caídos até a metade das costas. Os olhos castanhos contornados por um pouco de lápis preto, destacava autoconfiança e desejo. E da forma como ele gostava, sem calcinha.

Ele não era um atleta, tampouco um artista de televisão, mas despertava um ciúme febril Bia, sempre a elogiá-lo. Seus atributos estavam em outras questões menos visuais, mas tinha lá seus encantos. Também não era do tipo rude ou desleixado. Era viril na medida certa e procurava ser certeiro nas investidas. Quando os dois estavam perto um do outro, bastava uma fagulha para arderem em chamas.

Bia virou de costas para apagar a luz do abajur e ficaram quase na penumbra. Após regular o barulhento ar condicionado, Pedro foi ao seu encontro, segurando-a pelas por trás. Abraçou-a com força e beijou o pescoço com carinho, arranhando-a um pouco com a barba por fazer, mas ela gostava assim. Segurou os cabelos dela e beijou o lóbulo da orelha, dando uma pequena mordida. Ela se arrepiou por inteira e girou os calcanhares para, dando-lhe um beijo ardente, devolver o puxão de cabelo com mais força ainda. Ele sentou na cama e ela no colo, deixando os peitos no rosto do seu homem. Era o momento certo de baixar a alça do vestidinho e assim ele o fez. Sussurrou juras de amor no ouvido dele, segurou o queixo com a ponta de seus dedos e deu mais um beijo molhado no seu amor. Ele a equilibrava com uma mão para não cair e com a outra arrancava aquele vestido apertado. Ela podia sentir a pulsação rígida e, portanto, era sua vez de agir, abrindo o cinto na calça jeans, como costumava fazer, trocando olhares. Ajoelhou-se, agarrou o cinto com uma mão e com a outra começou a abrir o zíper, quando tocou o telefone do quarto.
- Ué? – estranhou Pedro, olhando para Bia ajoelhada no tapete em frente à cama, quase no escuro – é aqui?
- Claro. Atenda logo. – devolveu Bia suspirando.
Pedro achou aquilo muito estranho e torcia por um engano. Mesmo tendo quebrado um pouco o clima, não demorariam para voltar ao ponto onde estavam. Só restava atender ao aparelho antigo e parar o barulho irritante.
- Alô – disse ele com uma voz enfadonha, deixando claro seu descontentamento.
- Senhor, mil desculpas por incomodá-lo. Aqui é da recepção e precisei lhe interromper porque estou com uma situação muito séria e preciso da sua ajuda.
- Minha ajuda? Como?
- Perdoe-me senhor, mas realmente é uma situação constrangedora. Eu gostaria de lhe pedir para olhar no quarto e verificar se por acaso o senhor encontra uma aliança por aí. O rapaz que o ocupou antes de vocês, afirma tê-la esquecido.
- Sério? Está bem, vou dar uma olhada. Em seguida eu retorno.

Após o recepcionista agradecer e desligarem o telefone, Pedro e Bia reviraram o quarto em busca da tal aliança, sem sucesso. Não havia nada ali, além dos habituais Kits de higiene, secador de cabelo, frigobar com coisas para vender, roupas de cama, toalhas, chinelos de dedos e um tapete. Apenas isso. Verificaram mais de uma vez, revirando tudo, e estando certos da resposta, Pedro ligou para o recepcionista informando. Mas não era tão simples assim. O homem estava irredutível e muito alterado. Queria encontrar sua aliança de qualquer maneira. Então, um impasse se deu nesse momento. Pedro reafirmou não terem encontrado a aliança. Segundo o ocupante anterior, estaria na pia do banheiro. Mais uma vez foram até ela com o telefone ligado, tanto Pedro quanto Bia, e verificaram não ter nada ali, em seguida, desligaram o telefone.

O clima havia esfriado entre o casal e não sabiam se riam ou se ficavam preocupados. E se o homem fosse até eles num momento de fúria e passassem por um constrangimento? Antes de desligarem o telefone, Pedro alertou o atendente para no caso do homem ir até o quarto, todos estariam encrencados. Mas o atendente garantiu a segurança. Os dois estavam em dúvida em como reagir. Continuar no clima romântico ou esperar para ver os próximos acontecimentos? Passaram a imaginar o homem metendo o pé na porta e revirando tudo a procura da aliança. E como ela seria? Abaloada como as deles ou tradicional? Teria alguma gravação com juras de amor eterno e fidelidade? Então, Pedro falou “Deve ter sido a mulher que estava com ele”. Bia continuou “Claro. Ela fez o trouxa tirar a aliança e deu um sumiço. Talvez na privada ou até roubado”. Ambos gargalharam sem culpa. Seria uma amante ou uma garota de programa? Um caso fortuito ou uma relação prolongada? Não tinham como saber, mas obviamente ele não pretendia perder o casamento. Não naquele momento e naquelas circunstâncias. O telefone tocou novamente para irritação de Pedro enquanto conjecturavam juntos. “E se foi a camareira?”.
- Senhor, desculpe-me mais uma vez.
- Cara, vocês estão nos incomodando. Assim não dá. Não tem aliança nenhuma aqui.
- Eu imagino senhor, mas a situação está muito ruim. O homem está transtornado. Eu só quero lhe pedir para me avisar um pouco antes de sair. Nós entraremos juntos, assim verificaremos a situação.
- Eu não quero contato com ele. Vocês são os responsáveis. Se acontecer alguma coisa comigo ou minha mulher.

Antes de Pedro terminar, foi tranquilizado mais uma vez. “Entraremos após vocês saírem. Eu lhe garanto. Estamos com segurança reforçada.”. Pedro, então, pediu apenas cinco minutos e ainda conseguiu isenção da estadia e um cupom de descontos para a próxima. Afinal, foram interrompidos logo após chegarem e estavam colaborando. Ambos se arrumaram rapidamente e um tanto constrangidos, foram embora. Na saída, perceberam várias pessoas entrando no quarto rapidamente e discutindo alto. Na semana seguinte, voltaram ao velho Pink and Blue Motel onde descobriram que o caso parou na polícia.

 

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