Crachá

MARIO ROBERTO DA SILVA ULBRICH

Crachá

Jorge há tempos cobiçava sua secretária. Coxas magníficas, bunda perfeita e um rostinho de menina. Seus olhos azuis profundos, indescritíveis, sempre o miravam como um convite em aberto. Tinha certeza do desejo recíproco de Quitéria. Esperava apenas por uma oportunidade.
Havia um porém: trabalhavam em uma empresa austera quanto a relação entre funcionários. Um caso entre chefia e secretaria determinaria severa punição aos dois. Havia também um outro senão: seu superior direto desconfiava da troca de olhares entre eles e estava sempre espionando pelos cantos. Finalmente, o maior dos inconvenientes: Jorge era casado e sua mulher ciumenta e desconfiada!
Embora as dificuldades quase insuperáveis, mantinha a expectativa de que um dia qualquer as coisas aconteceriam. E de fato, para a surpresa de Jorge, sua mulher anunciou que iria visitar a mãe adoentada, moradora em uma cidade distante. Que voltaria somente uma semana após. Alegou que há muito tempo não via os seus pais.
Jorge passou o dia agitado sem conseguir concentrar-se no trabalho, fato que despertou a atenção do seu superior, que se colocou literalmente de “orelhas em pé”! Jorge sabia que outra oportunidade não aconteceria tão cedo. Iria faltar tempo para saciar tanto desejo reprimido.
Quitéria ao final do expediente, pegou seu carro estacionado no pátio da empresa e dirigindo por caminhos alternativos ao seus usuais, estacionou o veículo num local pré-escolhido e aguardou. O local era bastante distante de sua casa, seus vizinhos e principalmente do escritório.
Jorge esperou um pouco e saiu cerca de dez minutos após. Dirigiu diretamente para casa, estacionou o carro na garagem e pulando a cerca baixa do pátio, ganhou a pé a ruazinha dos fundos, totalmente deserta. Caminhando exatas quatro quadras, encontrou Quitéria e tomou assento ao volante do carro dela, dirigindo-o para um motel situado em uma área deserta nos limites da pequena cidade.
Chegando ao motel, pouco tempo dispensaram com os preliminares. Simplesmente tiraram as roupas e os pertences espalhando-os pelo chão e jogaram-se na cama. Foi uma noite excepcional. Quitéria era de fato tudo aquilo que Jorge sonhava. Jorge era um homem em boa forma e com suficiente experiência para manter acesa a relação por toda a noite.
Quando as luzes do dia iluminaram o quarto, encontraram o casal de amantes adormecidos, estirados na cama. Quitéria foi a primeira a acordar.
- Socorro! Acorda Jorge! Estamos atrasados. Já devíamos estar no escritório. Põe tua roupa e vai; teu chefe deve estar à tua espera. Irá também cobrar meu atraso. Chama um Taxi. Eu vou demorar-me um pouco mais para não chegarmos juntos. Diz a ele que me liberasses para prestar um serviço externo.
Jorge nem passou em casa. Foi direto para a empresa e já na chegada encontrou seu superior o esperando.
- Onde andavas Jorge? Estou te procurando há mais de meia hora!
- Desculpe chefia, tive alguns contratempos e me atrasei. Depois compenso as horas perdidas.
- Contratempos já de manhã cedo?
- Minha mulher viajou para passar a semana com a mãe doente, quase coloquei fogo na casa operando de forma errada a torradeira e para finalizar, meu carro estragou.
- Ah, bem! Mas me diga, sua secretária também se atrasou?
- Ah, não! Eu a dispensei para realizar algumas tarefas externas. Deve estar chegando daqui a um pouco mais. Olha! Na verdade acabou de chegar, tua a vês?
- Sim, tens razão! Vamos então ao trabalho. Mas antes, me esclarece um último e intrigante detalhe.
- E qual seria este detalhe Chefe?
- Como o Senhor explica estar utilizando o crachá da Srta. Quitéria ao invés do seu?

 

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