Sonho de consumo

Maria Avelina Fuhro Gastal

Estamos sempre querendo algo. Necessidades que nem sabíamos da existência em nós, são desvendadas pela mídia. Seja pela moda, pelo status, pelo conforto ou pela novidade, acumulamos desejos de consumo.

Eu tenho um. Não é de agora, há anos me acompanha. Não vem de nenhuma campanha de marketing. Vem de algo que se avoluma em mim. Talvez, esse seja o outro motivo que nos faz sonhar em possuir algo. Aquela vontade que nasce de nossas limitações e da busca de uma forma para superá-las.

Mais do que qualquer carro, roupa, sapato, maquiagem, perfume, tapete, sofá ou cozinha planejada, o que mais quero é um etiquetador.

Sabe aquela maquininha em que você digita o que quiser, imprime e rotula com a etiqueta tudo aquilo que tem dificuldades em reconhecer ou diferenciar. Vocês podem pensar que bastaria uma etiqueta adesiva e uma caneta para resolver meu problema, mas preciso que tudo seja parelho, com a mesma forma e tamanho, ou estaria criando uma dificuldade a mais para mim. Tem que ser o etiquetador.

Com ele identificaria o pote de farinha e diferenciaria:

o pote do sal e do açúcar,

a saudade da doce lembrança,

o orégano das ervas finas,

a inspiração do trabalho intenso,

a derrota do cansaço,

o amor do carinho,

o bicarbonato da pimenta branca,

a ansiedade da expectativa,

a fome da gula,

a mostarda em pó do açafrão,

a realidade do sonho,

a paz da solidão,

a vontade da atitude.

 

voltar para página do autor