Encontro histórico

Marta Leiria

Confesso minha absoluta perplexidade ao tomar conhecimento da existência de pauta destinada a discutir o papel da mulher no âmbito do Ministério Público Federal, dizendo respeito às Procuradoras da República. Foi em agosto de 2018, ao ouvir a Chefe da Instituição, Raquel Dodge, no XIV Congresso do Ministério Público do RS. Além de revelar tal iniciativa, destacou que o MPF atua para reduzir a baixa representatividade feminina na vida pública. Saí intrigada. Um Promotor veio me dizer que eu e minhas colegas não precisávamos disso, já éramos “empoderadas” (palavrinha chata). Mas o tempo passou e me ocupei de outras pautas: processos, leituras, vida privada.

Eis que se elege, em nosso Estado, pela 1ª vez na história, uma mulher para presidir a Associação do MP, Martha Beltrame. Já tivemos uma mulher Corregedora-Geral do Ministério Público, a pioneira Jacqueline Rosenfeldt, e uma Procuradora-Geral de Justiça, nossa corajosa Simone Mariano da Rocha. E Martha tratou de criar o que batizou de Conexão Mulher. Pensou em Ocupação Mulher, mas sabiamente desistiu ao vislumbrar a possibilidade de que alguém pretendesse ingressar com ação de reintegração de posse para retirar as mulheres do prédio. Brincadeiras à parte, vamos ao ponto: em março, organizou evento premiando destacadas mulheres do cenário público rio-grandense, ocasião em que tive a satisfação de conversar com algumas delas, dentre as quais a também 1ª mulher a exercer a função de Chefe de Polícia do Estado, Nadine Anflor. Gostei!

Em março de 2019 - Mês da Mulher - encontro inédito do Conexão para refletirmos sobre o papel da mulher no MP, na vida pública, na sociedade. E me lembrei de Raquel Dodge. Existiria essa pauta se não tivéssemos uma mulher presidindo nossa associação de classe? Parece que não. Nesse encontro histórico, descobrimos assuntos que dizem respeito somente a nós, mulheres, integrantes de instituição composta inicialmente apenas por homens, com suas visões de mundo, dificuldades, união.

Com tantas mulheres protagonizando a vida pública, precisamos, sim, diagnosticar nossos interesses e entraves - muitos de ordem interna e cultural -para, por exemplo, obtermos maior representatividade na esfera pública e na iniciativa privada. Tenho uma esperança de mulher: quero crer que nossos amores, amigos, colegas têm se empenhado mais e mais em respeitar, ouvir, considerar seus amores, amigas, colegas. Mas cabe a nós, mulheres, e a mais ninguém, a indelegável a tarefa de encontrar nossa própria voz e de dizer a que viemos.

 

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