Feira do Livro

Claudia Paixão Etchepare

Quando as flores do jacarandá vestem as árvores e as do ipê vestem as calçadas, a cidade vive o seu esplendor: a alma de escritores ramifica-se por vielas ladeadas de livros e povoadas por personagens – alguns de carne e osso e muitos de mundos paralelos - na Praça da Alfândega.
É tempo de florescer a videira da Feira do Livro.

Seus ramos me enlaçam com abraços amorosos e perco a razão. Em cada banca um estado de espírito, em cada esquina o risco de estar ombro a ombro com o meu escritor favorito. As vozes do meu povo, feito o zum-zum de colmeia de abelhas em produção, o cheiro exalado pelas páginas frescas dos livros que ainda não pude ler (e são tantos!), performances artísticas aqui e ali, inquietação e alegria estampadas na retina dos olhos atentos das crianças, no meio sorriso dos lábios dos adultos.
No tempo da Feira do Livro, tudo pode acontecer.
Ando de mãos dadas com o Mário pelas ruas, como que examinássemos a anatomia de um corpo, e me sento no café com o Érico enquanto o vento embala a nossa conversa e o tempo me concede alforria.
Fecho os olhos, e pareço ouvir uma prece sussurrada por entre o farfalhar das folhas das árvores.
Nesta época encantada, minha Porto Alegre pulsa e se faz ainda mais bela.

* No ano de 2018 a Feira do Livro estava ainda mais encantada para mim, pois fiz o lançamento do meu livro DE CARA COM A FERA- O verso e o reverso do câncer lá, no dia 15 de novembro. Na ocasião recebi pessoas queridas, algumas haviam sido extraviadas dos meus contatos nos ciclos do tempo, outras vindas de longe,só para estar comigo neste momento. Para completar, a sessão de autógrafos relocou-se para uma padaria na Rua da Praia - conversa caudalosa, entre goles de café preto e tortas deliciosas. A emoção deste dia? Bem, mal consegui dormir naquela noite.

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