PAPAI NOEL

Viviane Bezzi


Dizem que a história do Papai Noel foi inspirada na figura de um Bispo do século IV, chamado São Nicolau, que viveu onde hoje é a Turquia. O tal Bispo era esbelto, não usava cores fortes e tão pouco era puxado por um trenó cheio de renas a voar pelos ares distribuindo presentes. O que ambos tem em comum? A bondade.
Mas então, de onde será que veio esse cara gorducho e barbudo, vestido de vermelho e usando um cinto preto que faz salientar ainda mais sua barriga? O autor e novo alfaiate do bom velhinho foi a Coca Cola, em 1931. Para incrementar as vendas, o marketing apostou nas cores da marca e, não é que deu certo? O povo adorou. Aprovadíssimo. Gol de letra. Nosso querido gordinho mantém-se com este modelito até hoje.
Pois bem, soube que vésperas do último Natal tentaram entrar em contato com ele, para marcar um encontro num orfanato da região, mas não conseguiram localizá-lo. A razão? Imagino que tenha sido o calor de um verão que entrou com toda a vontade pra estas bandas de cá. Também pudera, com aquela roupa toda, bota e touca de lã, na certa ele ficou lá no outro hemisfério. Só pode. Quem seria doido pra descer até aqui, sem outra muda de roupa? Ninguém pensou num modelo mais leve pro pobre coitado poder desfrutar de um país tropical? Poderiam ser as mesmas cores, mas cá entre nós, uma bermuda vermelha floreada, uma regata e uma havaiana preta não seria má ideia. Tudo bem manter a sua carruagem de renas, afinal, lá pelas nuvens sempre bate um ventinho gostoso. E se nas casas ele fosse recebido com uma água gelada ou um chopinho, melhor ainda. Imagina se fosse eu, você ou qualquer outro habitante de um lugar que está em pleno verão, sair perambulando com um traje apropriado para um frio de rachar, carregando um saco super pesado nas costas, não é pra qualquer um. Na certa ele passa mal, mas é tão generoso que nem reclama.
Na última ceia, família reunida e comida na mesa. Peru, fios de ovos, arroz a grega, farofa, salada de maionese, seu Noel bateu na porta, para alegria e excitação das crianças, entrou e se sentou para distribuir os presentes. Foi quando minha filha, que já não é mais criança, perguntou por que o Papai Noel é o único que não ganha presente. Ele escutou. É velhinho, mas tem boa audição. Levantou-se de onde estava, atravessou a sala e veio direto na autora da dúvida. Pediu pra ela repetir. Sem jeito ela obedeceu. E ele, com a boca arreganhada, disse: Pois é, tá vendo? Eu também nunca entendi isso.
Faz parte da tradição, mas sempre haverá dúvidas, questionamentos, aquele grilo falante que fica azucrinando querendo saber de tudo e que algumas vezes nos coloca no meio de um conflito. Porque num País tropical não se pode ter um Papai Noel tropical? Imagina ele no Rio de Janeiro, chegando com um calção de banho e uma prancha de surf embaixo do braço, tudo vermelho, lógico. Não é que ele ia ficar bem bonitinho?

 

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