Vínculos bascos

Claudia Paixão Etchepare

Há alguns anos o livro ‘A Alma Basca’, gentilmente ofertado por uma amiga, remexeu as minhas entranhas e abriu um novo mundo para mim. Ao ver meu sobrenome citado em uma de suas páginas – Etchepare – me senti desacomodada. Como assim?

Estabeleci contato com Ana Luiza Etchalus, a autora do livro, que me acolheu e me apresentou a outros bascos. Engajei-me em seu esforço entusiasmado em criar a Euskal Etxea - Casa Basca do Rio Grande do Sul, o que se tornou uma realidade pouco tempo depois. Quero ter um livro contendo todos os sobrenomes bascos, suas origens, suas histórias - me dizia Ana Luiza, com os olhos trazendo na retina uma determinação implacável. A determinação basca.

Curiosa em conhecer de perto o legado recém desbravado, fiz uma viagem ao País Basco. Victor Hugo, escritor francês, um admirador da cultura basca, uma vez disse: “Nasce-se basco, fala-se basco, vive-se basco e morre-se basco”. Uma curiosidade quanto ao diminuto território basco, localizado no sopé das montanhas dos Pirineus, é que aproximadamente dez por cento de sua área encontra-se na França, precisamente o local de origem de meus ancestrais. O meu sobrenome lá é prontamente reconhecido, nem preciso soletrar!

O povo basco é dono de rica sapiência e vive em uma comunidade próspera e produtiva que em muito excede a visão apressada divulgada pela mídia internacional, focada unicamente na luta separatista. A culinária local é exótica e inigualável produzindo chefes famosos mundialmente. A cultura ancestral basca sobreviveu todas as invasões indo-europeias e, por consequência, é plena de rituais milenares e preenchida de reticências...

Entre os mistérios deste grupo étnico está a língua basca denominada Euskera. Esta língua de sonoridade peculiar é considerada uma ilha linguística, sem semelhança com qualquer língua viva ou extinta. Há quem diga até que é a mais antiga do mundo. Descobri que certos vínculos estão no DNA e são disparados por gatilhos, que podem ou não se manifestar durante uma vida. Assimilei cada informação que me foi passada, tomando posse de minha porção basca sem muito decoro. Afinal, meus vínculos bascos atravessaram impávidos milhares de anos esperando serem requisitados.

Viver sob a chancela basca trouxe um novo lustro à minha vida. O senso de pertencimento a esta cultura me envaidece. Hoje seguidamente me pego prefaciando uma explicação sobre meu comportamento com a frase: Sou basca! E, em meus momentos de quietude, capturada pela magia da sorginkeria (bruxaria), ouço vozes internas entoado em coro:

Ongi etorri!, "bem-vindo" em Euskera.


QUER CONHECER MAIS SOBRE OS BASCOS?
Visite o site da Casa Basca/ Euskal Etxea – RS:
http://casabascars.blogspot.com/2018/

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