AMARGO

Liz Quintana

Sentou ao meu lado, anos de amizade, mas naquele dia preferia nunca ter conhecido. Isabel deu um sorriso e perguntou como eu estava. Tinha vontade de responder, mas o que ganharia com isso? Pelo que percebi ela ignorava que eu sabia.
Isabel tinha estilo, falava com charme e sabia se vestir. Seu humor era ácido e ficava estampado naquelas covinhas que emolduravam o batom de cor forte. Sempre a admirei mas a ingenuidade embaça a vista.
A confeitaria era a de sempre, eu é que não era e seria ruim deixar que percebesse o azedo que me consumia. Vesti minha melhor personagem, a louca. Conversamos até eu esquecer minha raiva, uma amizade está acima de certas dores.
Pedi um salgado delicioso recheado com queijo. Mas aquele café amargo foi um punhal, trazendo as lembranças e impedindo o prazer. Não tive dúvida e docemente clamei: - Por favor, o açucareiro!

 

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