O bar do Erasmo

Neusa Demartini

O bar do Erasmo estava com os mesmos frequentadores de todos os dias. Exceto aos domingos, quando fechava, os bebuns não variavam. Chegavam, alguns até muito cedo, já que abria às oito e meia. Mas, antes do meio dia, estava com todas as mesas ocupadas e, tantos quanto cabiam, encostados no imundo balcão.

Entrei para comprar cigarros, deixando o carrinho de compras carregado encostado no degrau de acesso. Era ali, em frente

ao meu edifício, que comprava minha carteira de cigarros semanal. Geralmente às sextas feiras. Entrava e me dirigia diretamente ao balcão: “ Um Free verde, por favor”. E saia rápido.

Pois aconteceu! Saindo com pressa, esbarrei no meu próprio carrinho de compras – vinha do supermercado - . e um líquido vermelho, ao mesmo tempo que um cheiro, conhecido pelos frequentadores, exalava na atmosfera onde, até então, predominava o da cachaça e, da cerveja mais baratas, já mais próximo ao meio dia.

- Bah, que judiaria!

- Bah, que desperdício!

- Bah, ela toma vinho!

- Bah, que fina!

- Também, olha onde ela mora... Ali em frente...

- Deixa que eu ajudo!

- Não, eu levanto o carrinho.

- Eu tiro os cacos!

- Cuidado, Dona, não vá se machucar!

- Caco de vidro é de matar!

- Bah, olha só que vinho!

- Bah, deve custar uma grana.

- Eu não gosto de vinho. Prefiro a minha cerveja.

- Tu não sabe de nada, tu é uma mulher sem finura.

- Vai a puta que te pariu!

- Vai tu, respeita a Dona!

- Qual é? Ela é melhor do que eu só porque toma esta merda?

- Para de dizer besteira. Tu é que é uma merda.

- Me respeita, viu?

- Me traz mais uma! Bem gelada. Tô rouca, mas não gosto de ceva quente.

- Paga agora?

- Bota.

- Não boto mais. Tem que pagar agora.

- Deixa, então.

- O que tem pra almoço?

- Carne de panela.

- Tem feijão e arroz? Só quero feijão e arroz.

- Tem.

- Bota mais um.

- Enche, porra!

- Ô Dona, tem umas moedas suas aqui, oh! Deixou cair na batida.

- Obrigada! Pode ficar com elas.

- Não tô precisando.

- Tá bom. Obrigada, então!

- De nada!

- Tchau, Dona!

- Bah, que desperdício!

- Bah, que judiaria!

- Bah, que fina!

- Bah, que merda perder aquele vinho...

 

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