Memória afetiva

Vanderleia Reis

Não sei se já aconteceu com vocês, de sentir um cheiro ou olhar algum objeto e lembrar uma pessoa ou acontecimento importante, comigo acontece direto.

A minha caixa de jóias tem o cheiro da minha vó, mistura de naftalina com madeira, presente dado por ela antes de falecer. Gosto de sentir o cheiro, me acalma.

Um dia estava organizando meus livros e encontrei O Morro dos Ventos Uivantes, na hora senti uma sensação indescritível e lembrei o quanto amava aquele livro, não só pela história linda, porque pertencia a seu Mário, um senhor que era meu vizinho, que por anos sentava no banco da praça, ficava lendo um livro e assim que terminava a leitura deixava o livro no banco para quem quisesse pegar, no outro dia fazia o mesmo ritual e isso se repetiu por anos.

Eu só ficava olhando ele da janela e ficava com muita vontade de pegar um livro, mas ficava com vergonha, até um dia que voltando da escola vi que tinha um no banco e não pensei duas vezes, peguei e saí correndo. Agora com ele nas minhas mãos parece que foi ontem.

Um dia para surpresa seu Mário não apareceu, nunca mais foi visto. A praça ficou muito triste sem a presença dele.

Ainda bem que temos uma memória afetiva de pessoas e momentos felizes que vivemos, principalmente na infância.

Espero que essa nova geração tenha alguma coisa para lembrar sem ser o mundo virtual.

 

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