Jogo do sério

Maria Avelina Fuhro Gastal

Texto produzido para a oficina com o Guto Leite – 1ºsemestre 2015


Não lembra mais das palavras. Apenas algumas frases soltas vagueiam em sua memória. Mas a força contida naquela troca de olhares a acompanha por quarenta anos.

Eram ainda adolescentes, faziam da brincadeira algo sério, e assim se declararam. A regra é simples, não se pode rir, nem desviar o olhar. E assim fizeram. Por horas que permanecem por décadas, deleitaram-se em um jogo do sério. Esqueceram do tempo, dos amigos, da vergonha e do medo. Olharam-se como há muito desejavam e denunciaram tudo que haviam calado.

A força daquele momento ainda está presente. Toda vez que se encontram se redescobrem adolescentes, mas nunca mais jogaram. Não lhes faltam palavras. Mas falta o olhar. Ela teme não ver mais o que guarda na lembrança. Receia mais ainda mostrar que a mulher que é ainda o ama como a menina que foi. Evita o olhar, mas anseia por ele.

 

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