Tecelagem da Vida (3)

José Eron Nunes

O médico veio até ela, disse que a cirurgia havia acabado e que fizeram tudo que foi possível. Informou que o acidente havia sido muito violento, a lesão no cérebro muito grave, e não havia como afirmar, ainda, a extensão das sequelas que poderiam restar. Aconselhou a mãe que fosse para casa descansar e que rezasse. Por hora, era só o que poderia ser feito. A pobre mulher, aturdida, pensava porque o acidente não foi com ela, em vez da filha, jovem, que tinha ainda toda a vida pela frente. Caminhou até o final do corredor onde estavam os elevadores e tentou mais uma vez, sem sucesso, ligar para o marido. Quando aconteceu o acidente, à tardinha, ela havia ligado para o trabalho dele e informaram que ele havia saído com uma assistente para uma reunião fora da empresa. Enquanto esperava o elevador, debruçou-se no peitoril da janela e enxergou pessoas animadíssimas, alcoolizadas certamente, que dançavam freneticamente em uma festa na cobertura do prédio ao lado. E a vida segue tecendo...

 

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