Ezequiel Berriel
Júlia imitava passos de uma dança ouvindo o último CD da cantora Anita e, a sua volta, acomodadas em almofadas dispostas na sala da pequena casa da praia, balançavam-se ao som da música as amigas Karen, Marta e Rose, colegas da escola. O dia findava, dando lugar a uma noite morna de céu limpo e enluarado como presente litorâneo às quatro amigas.
Karen, a mais velha da turma, sugeriu um passeio ao centrinho do balneário. A aprovação foi unânime, e iniciaram a produção para o passeio de imediato. Júlia vestiu uma minissaia com uma blusa de malha com decote audacioso e sandálias. Karen, mais alta e mais robusta que as demais, preferiu uma calça jeans com uma camiseta de malha preta e tênis cano alto. Marta e Rose optaram por vestidos tipo saída de praia amarrados com cintos combinantes com sandálias. Batons, bases, perfumes, brilhos e tais, se foram ao centrinho.
Beirava a meia-noite. A avenida principal, recebia uma fraca e amarelada iluminação vinda das poucas lâmpadas dispostas no canteiro central e de alguns luminosos das fachadas de casas comerciais, já fechadas àquela hora. Um aglomerado de jovens à frente e o som que de lá ouviam denunciava festa. Mentiram as idades e entraram. O local era pequeno com poucas mesas e lugares para sentar. Ao redor de uma reduzida pista de dança, aglomerava-se um público jovem que, de pé e com copos nas mãos, movimentavam-se ao som da música eletrônica. Karen encarregou-se de comprar as bebidas. Optaram por uma mistura de vodca e energético. Acomodaram-se. Júlia, mais solta e com dotes de dançarina, balançava-se ao som estridente da música. Karen tentava alguns passos e bebia. Marta e Rose, mais inibidas, observavam os movimentos na pista, silenciosas.
Júlia sentiu que alguém lhe tocou no ombro e, ao virar-se, deparou com um jovem lhe convidando para dançar. "Léo", apresentou-se ele, mostrando um sorriso aberto, com cabelos quase nos ombros, olhos verdes, um pequeno brinco na orelha esquerda combinando com o piercing no nariz. Júlia sorriu e manteve os passos de dança, agora acompanhada por Léo. Marta e Rose, embaladas pela bebida, também dançavam juntas na pista e Karen observava, com interesse, uma morena alta e de pernas grossas que dançava desacompanhada em um canto fora da pista.
O rosto de Júlia enrubescia e seus pensamentos fervilhavam a cada toque de Léo. Seu corpo era invadido por sensações ainda desconhecidas. A música, a bebida, os cheiros e as sensações misturavam-se em Júlia e fez com que se esquecesse de suas amigas quando Léo a convidou para saírem da festa e fazerem um passeio à beira mar.
A água refletia a claridade da lua e, no céu, parecia faltar espaço para mais estrelas. O som das ondas quebrando na areia era suave. Era tudo poesia. Era um primeiro beijo.